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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cufa Sorocaba leva time de basquete para repescagem no Rio de Janeiro

“Cuidado que a CUFA, que a CUFA te pega, te pega daqui, te pega de lá”. E é bom que pegue mesmo. A CUFA em questão é a Central Única das Favelas, organização voltada para promoção social, cultural e esportiva da periferia. Criada no Rio de Janeiro por nomes como MV Bill, Nega Gizza e Celso Atayde, a ONG é uma mais importantes na luta contra exclusão e descriminação daqueles que vivem nas áreas pobres das cidades. Está espalhada por todo país e já desembarcou em Sorocaba.


A responsável por isso é a angolana Maria de Fátima. A professora chegou ao país nos anos 1980 depois de fugir das situações de conflitos que assolavam sua terra natal. Rodou o Brasil. Morou em vários cantos e, no ano passado, veio parar em Sorocaba. Antes, porém, se envolveu com os trabalhos da CUFA em Uberlândia/MG.

Devidamente instalada por aqui, foi atrás de implantar o bem sucedido trabalho da ONG carioca na cidade sorocabana. Trabalhou duro e conseguiu, ainda em 2009, realizar o Viradão Esportivo, evento voltado para prática de esporte em vários pontos da cidade.

Este ano, dedicou-se mais ao basquete de rua. Foi assim que levou a cidade para LIIBRA- Liga Internacional de Basquete de Rua. A competição é um dos mais importantes trabalhos desenvolvidos pela CUFA.

O time sorocabano, nomeado Sorocaba Baller’s, esteve no Rio de Janeiro em agosto (31). Era a 1ª etapa nacional da Liibra e a equipe tinha Luiz Carlos Oliveira da Silva, Emerson Aurélio Nunes, Kleiton, Rafael Souza Rocha, Rogério de Oliveira Antunes e Ulisses Soares de Moura como integrantes.

Foram dois desafios no mesmo dia. Primeiro, enfrentaram o Pedreira, do Rio, e, depois, o Cezarão 2, também da cidade carioca. Contra o Pedreira, o Sorocaba Baller’s se deu bem e venceu por 11 a 9. Já frente ao Cezarão 2, perdeu pelo apertado placar de 10 a 11.

O desempenho nesta etapa, no entanto, garantiu aos meninos de Sorocaba a classificação para repescagem. O jogo aconteceu em 11 de setembro, no bairro Madureira, no Rio de Janeiro.

No dia 10, o Sorocaba Baller’s partiu rumo a Madureira. Foram doze horas de viagem de ônibus. Ainda tiveram duas paradas, uma em São Paulo e outra em Santos, para pegar os outros times do estado.


Rogério, Luiz Carlos, Ricardo, Rogerinho, Ulisses e Wesley

  A coordenadora da Cufa Sorocaba, Maria de Fátima, e o Sorocaba Baller's

 O time sorocabano teve alterações. Jogaram neste dia Luiz Carlos da Silva, Ulisses Soares de Moura, Rogério de Oliveira Antunes, Wesley da Silva Braga e Ricardo Correria da Moura. O adversário do Sorocaba Baller’s foi Cesta Básica, do Rio. Numa partida emocionante, o time carioca levou a melhor, vencendo por 4 pontos de diferença. Nada que pudesse desanimar ninguém. Ricardo, sempre brincalhão, comentou após a partida: “Se vida é só vitória, a gente está perdido”.


Sorocaba Baller's enfrentou o Cesta Básica, do Rio de Janeiro





Mais sério, nem por isso desanimado, Ulisses (foto) analisou o jogo da seguinte maneira: “A gente quase reagiu no final, mas faltou banco. Um jogar nosso se machucou”. E tratou de pensar no futuro: “Mas agora é bola pra frente. Provavelmente a gente vai ter uma LIBRA lá em Sorocaba no ano que vem. A gente vai se concentrar para formar uma equipe forte e entrosada”.




O Basquete de Rua

O basquete de rua tem, a princípio, as mesmas características e regras do basquete tradicional. No entanto, a ele foram incorporadas certas malandragens das ruas. Joga sempre cinco contra cinco. A pontuação é diferente. Vale um ponto até a linha onde, no jogo tradicional, vale de um a três. Dessa linha em diante, a cesta vale dois pontos.

Se o jogador conseguir enterrar a bola, são dois pontos. Passar a bola debaixo das pernas do adversário vale dois. Fazer uma malandragem como quicar a bola e enfiar a camiseta na cabeça do adversário garante dois pontos.

Os jogos da Liibra em Madureira, no Rio de Janeiro, aconteceram debaixo de um viaduto. Lá a CUFA montou a quadra para as competições. O local conta com arquibancada, vestiário e espaço para skate, break e grafite.

Durante as partidas, rola um alto e bom som. O repertório tem o melhor do rap nacional e internacional. O narrador dos jogos, na verdade, é um mc. Ou melhor, dois deles. Os rapazes praticamente fazem parte do jogo. Narram e comentam os melhores lances de dentro da quadra. Por vezes, costumam fazer uma piada ou outra com os jogadores. Mas tudo na maior descontração possível. Mesmo quando o clima fica mais pesado. Coisas do esporte.

A rapper Nega Gizza, uma das fundadoras da CUFA, diz que o trabalho da entidade busca apresentar novos formatos de fazer as coisas. “De repente, o que a gente faz não é novidade. Mas forma que a gente faz, o formato que a gente usa acaba sendo diferenciado”.

Ela conta que quando conheceu o basquete era algo americanizado, o street Ball, e, de imediato, viu que poderia fazer algo com as características brasileiras. “Tinha que ter a cara que de quem está trazendo movimento, da favela. Então, a ideia foi fazer algo modificando, repaginando. Vamos fazer o nosso basquete”. Surgiu daí a Liga Internacional de Basquete de Rua, a Liibra. “Então a gente criou o basquete de rua que é nosso, a gente criou a ideia de movimentação em volta do basquete de rua. Então é o break, o graffite, o DJ, o skate, o mc. Tudo isso incorporado”.



Jônatas Rosa, da comunicação da Cufa Sorocaba, ao lado de Nega Gizza, rapper e presidente da Liibra

 A incorporação desses elementos ao basquete de rua, segundo ela, traz uma nova cara ao esporte de rua. “O esporte que movimenta, que agita as ruas. E traz essa nova perspectiva da consciência, da cidadania. E você faz um movimento cultural maravilhoso. Então, a CUFA vem trazendo uma nova proposta”.

Não por acaso, esse movimento cresceu e, hoje acontece em vários pontos do país. “A gente expande isso. Temos parceiro e todos os lugares, fazendo da mesma forma, e você tem essa força de jovens sendo protagonista. E nós também. Saber que eu, uma menina que veio da favela e hoje estou aqui protagonizando com vários outros jovens essas história, essa é a ideia da CUFA”.

Eliane Cacavo (foto abaixo), coordenadora da Liibra no Rio de Janeiro, tem motivos de sobra para comemorar. “A Liibra é o carro-chefe da CUFA, eu me sinto honrada de ser coordenadora desse projeto, de trazer pessoas de outros estados para participar desse que é um grande esporte de inclusão social e das atividades paralelas que fazem parte de nossa cultura, que é o break, o grafite, o skate, o pessoal que vem fazer trança”.



Ela também aponta para o processo de integração do movimento e salienta a importância disso para a periferia: “a CUFA e Liibra servem para mostra que na periferia, nas comunidades e nas favelas existem pessoas criativas, de boa índole, que fazem atividades esportivas e participam da cultura de um modo geral. A gente tem cultura na favela, tem gente importante e gente que dá via a cultura. Gente com capacidade de fazer a cultura, de fazer a modificação através da cultura e do esporte”.






Veja todas as fotos do evento aqui.
Texto por Jônatas Rosa

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